domingo, 4 de novembro de 2007

Vontades

Uma vontade de não fazer nada. Minto: de viajar. De ir para perto do mar. Pisar na areia. Tomar sol. Comer camarão. E dormir – sem hora para acordar. Esquecer o desejo de ser o que jamais conseguirei ser. Esquecer o que nunca será meu. Dar-me ao luxo de perder as esperanças.

Brincar que o passado não aconteceu. Que foi só uma história que me contaram, a respeito de outra pessoa – nada a ver comigo. Esquecer o que fui, o que fiz, o que vi, o que porventura prometi. Deslembrar dores, diluir saudades, desfazer compromissos. Afogar no mar o amor demais que arde cá dentro. E voltar leve para a areia, esvaziada de mim.

Deitar sobre a esteira e sentir o arrepio provocado pela brisa que bate no corpo úmido. O sol queimando e o vento assoprando. É boa essa mistura de sensações. Ambíguas sensações concomitantes.

Ficar assim, largada, meio acordada, meio adormecida – imaginando ou sonhando? Escutando o barulho do mar e tendo a impressão de estar no fundo dele. Esquecida, sozinha, em paz.

Abrir os olhos devagarinho, e dar de cara com o azulão do céu. E, por causa desse azul, ter vontade de voar.

Depois, sair caminhando por entre crianças e castelos de areia.

M. Gramacho