Trecho de "A outra vida de Catherine M.":
"Se não acreditamos em predestinação, temos que admitir então que as circunstâncias de um encontro, que por comodidade atribuímos ao acaso, são, na verdade, o resultado de uma incalculável sequência de decisões tomadas em cada cruzamento de nossa vida e que, secretamente, nos levaram até ele. Não que tenhamos buscado, nem mesmo desejado, ainda que inconscientemente, todos os nossos encontros, até mesmo os mais importantes. O que é acontece é que cada um de nós age como um artista ou um escritor que constroi sua obra numa sucessão de escolhas. Um gesto ou uma palavra não determina inelutavelmente o gesto ou a palavra seguinte; pelo contrário, coloca seu autor diante de uma nova escolha. Um pintor que colocou uma pincelada de vermelho pode escolher alongá-la, justapondo-lhe uma pincelada de roxo; pode escolher fazê-la vibrar com uma pincelada de verde. No final, por mais que ele tenha trabalhado com uma certa ideia do quadro pronto na cabeça, a soma de todas as decisões tomadas, sem que tenham sido previstas, fará surgir um outro resultado. É assim que vamos conduzindo nossa vida, num encadeamento de atos bem mais deliberados do que estamos prontos a admitir – porque assumir claramente toda essa responsabilidade seria um fardo muito pesado –, e que, no entanto, nos colocam no caminho de pessoas em cuja direção não pensávamos já estar nos dirigindo há tanto tempo."
"Se não acreditamos em predestinação, temos que admitir então que as circunstâncias de um encontro, que por comodidade atribuímos ao acaso, são, na verdade, o resultado de uma incalculável sequência de decisões tomadas em cada cruzamento de nossa vida e que, secretamente, nos levaram até ele. Não que tenhamos buscado, nem mesmo desejado, ainda que inconscientemente, todos os nossos encontros, até mesmo os mais importantes. O que é acontece é que cada um de nós age como um artista ou um escritor que constroi sua obra numa sucessão de escolhas. Um gesto ou uma palavra não determina inelutavelmente o gesto ou a palavra seguinte; pelo contrário, coloca seu autor diante de uma nova escolha. Um pintor que colocou uma pincelada de vermelho pode escolher alongá-la, justapondo-lhe uma pincelada de roxo; pode escolher fazê-la vibrar com uma pincelada de verde. No final, por mais que ele tenha trabalhado com uma certa ideia do quadro pronto na cabeça, a soma de todas as decisões tomadas, sem que tenham sido previstas, fará surgir um outro resultado. É assim que vamos conduzindo nossa vida, num encadeamento de atos bem mais deliberados do que estamos prontos a admitir – porque assumir claramente toda essa responsabilidade seria um fardo muito pesado –, e que, no entanto, nos colocam no caminho de pessoas em cuja direção não pensávamos já estar nos dirigindo há tanto tempo."