"Obrigada por ter vindo. Eu sei, nós dois sabemos que não há nada que você possa fazer. Nada. Não há nada que eu possa dizer ou silenciar que vá mudar o rumo das coisas. Tudo já foi dito com o desespero que as palavras carregam quando temos a ilusão de que elas podem fazer algo por nós. As palavras não mudam nada. Não há nada, portanto, que eu possa dizer que o faça mudar de ideia, ou sentir de forma diferente. Porque o que você sente foi sendo cunhado no silêncio, naquela parte da alma onde a palavra parece sempre ociosa e desmedida. Por isso, como eu posso chegar agora e dizer algo que possa mudar o nosso destino?"
Lilia Gramacho, Fim, ponto
(Lilia é uma parente "perdida" que o Facebook me permitiu encontrar. Somos primas de terceiro ou quarto grau. Mas isto não importa; importam as coincidências: além do sobrenome, compartilhamos a profissão e o amor pela literatura. Ela escreve livros para crianças e adolescentes. O conto cujo trecho reproduzi acima, creio eu, é uma exceção em sua obra. E uma exceção deliciosa, escrita com profunda sensibilidade. Tanto é que o texto foi um dos selecionados no Prêmio Off Flip de Literatura, em 2010.)