quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Literatura eu faço, cinema eu comento.
Estou fazendo um curso sobre crítica cinematográfica e análise fílmica, e a primeira tarefa foi escrever sobre um filme muito ruim e outro muito bom.
Abaixo, o meu "dever de casa":

Sex and the city 2 (Michael Patrick King, EUA, 2010)
Para os fãs da divertida (e premiadíssima) série estadunidense Sex and the city, o segundo filme que reúne o quarteto de mulheres nova-iorquinas deveria vir acrescido do subtítulo "O desastre". Isso mesmo: Sex and the city 2 – O desastre.
O filme mais parece uma tentativa desesperada de não deixar que a série seja esquecida, mas se torna um verdadeiro "samba do crioulo doido" ao reunir as personagens em cenários que vão da cosmopolita Nova York a um simples mercado no Marrocos, colocando-as em situações insólitas e coincidências absurdas – no Ocidente e no Oriente.
O filme peca do início ao fim por excessos desnecessários (que excessos não são?!), o que pode ser percebido logo nas primeiras cenas. Uma Carrie exageradamente fashionista e mimada, que veste um smoking para comparecer ao casamento pra lá de cafona de dois amigos gays. Mas o pior ainda está por vir: Liza Minnelli, em trajes mínimos, cantando Beyoncé na tal cerimônia, numa cena bizarra e patética.
Além disso, a história das quatro mulheres, que havia sido tão bem "amarrada" no primeiro filme, é resgatada para expor as personagens a situações falsamente dramáticas, que não convencem até quem não acompanhou as seis temporadas da série. Personagens antes bem construídos se fragilizam e se despedaçam na tela e nos corações dos fãs. Que lástima. (MG)

Sozinho contra todos (Gaspar Noé, França, 1998)
Sozinho contra todos não é um filme para principiantes. Trata-se de uma narrativa visceral sobre a miséria humana: o desespero, a solidão, a decadência social, os valores (ou a falta deles) e as neuroses do homem moderno. O protagonista é um sociopata no sentido estrito, um homem à beira do abismo, perturbado por um amor incestuoso. A obra, de maneira nada sutil, mostra que ser amoral ou imoral, em alguns casos, dá igual.
Com ritmo pulsante – como em outros trabalhos do mesmo diretor (Irreversível é o melhor exemplo) –, o filme se desenrola em um espaço estranho e alucinante, incômodo: ora real, ora memória, ora fantasia. A alteração psíquica do protagonista conduz toda a obra e ao espectador é dada, literalmente, a oportunidade de sair do cinema ou de se tornar testemunha do que está por vir – antes dos momentos mais brutais, um letreiro estroboscópico (recurso também utilizado em Irreversível) avisa que cenas fortes estão por vir em 30 segundos.
Completamente alterado e autorreferente, o protagonista – um açougueiro ex-presidiário – vive em um universo particular de solidão, desesperança e ódio, vagando por um labirinto de loucura, obcecado pela filha, a quem deseja de maneira doentia.
Sozinho contra todos é um filme magistral, que causa repulsa e seduz ao mesmo tempo. Um clássico do cinema moderno: profundo, cheio de poesia (sim!) e fúria. (MG)