sexta-feira, 18 de novembro de 2016

– Sabe o mais legal?
– O quê?
– A gente não se conheceu; se reconheceu!

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Às vezes, aliás, muitas vezes eu me pergunto se é preciso que as coisas recebam nome, que as cartas estejam na mesa, que as regras sejam claras etc.. Porque gosto de saber onde estou pisando. Assim, posso evitar cair num buraco, me afogar em areia movediça ou escorregar no cascalho.
Até aí, tudo bem. O problema é que tenho a (terrível) mania de calar acerca do que me incomoda. Então me torno a "melhor" mulher do mundo: tudo entende, contemporiza, relativiza, aceita. Uma lady. A elegância em forma de gente. Embates? Evitados a todo custo.
Mas tenho consciência de que ser assim não é bom – para mim. Podem achar que não me importo (quando, na verdade, me importo); podem não me levar a sério; e, pior, pode dar câncer.
Os 39 chegaram com esta lição: aprender a falar. Falar! Na hora certa, no momento oportuno, correndo os riscos inerentes.
Cresci em uma casa onde falava-se pouco e, quando falavam, podiam ferir. Provavelmente vem daí minha preferência pelo silêncio. Há que se romper, porém, com padrões infantis.
Determinadas situações subentendidas nas entrelinhas, se nomeadas, explicitadas, publicizadas, perderiam a leveza que hoje possuem? Perderiam o inefável encanto? Dúvida do momento.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Depois de algumas semanas fora do ar, retomo minha colaboração com o site Universo dos Leitores, com o texto intitulado É preciso aprender a ser só.

Visitem, leiam, comentem!

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Eu sou uma longa história... Senta aí, eu vou te falar sobre mim... É melhor você saber a verdade agora, para depois não dizer que eu não te avisei. Pegue uma xícara de chá e fique à vontade, eu posso demorar. Pode ser que eu demore uma noite ou uma vida... A única coisa que eu posso te garantir é que eu não sou uma mulher de poucos segundos.

Para começar, eu não gosto de relações superficiais. Eu sou intensa, dou o meu máximo, por isso nunca me contentarei com o seu mínimo. Não vou cobrar sua atenção, mas se você não corresponder às minhas expectativas, provavelmente eu vá embora.

Existe algo sobre mim que eu nunca soube explicar: eu dou murro em ponta de faca, sou insistente, faço o possível, o impossível e, por vezes, valorizo pessoas que não me merecem... Mas, quando me canso de uma situação, ou de alguém, não há nada que me faça voltar atrás. É como se, da noite para o dia, todo aquele sentimento se esgotasse dentro de mim. Você não acha isso estranho?

Também tem isso, eu posso ser estranha algumas vezes. Eu sinto vontades que vêm do nada, e tem dias que tenho saudades de sei lá o quê. Eu sou dramática, mas detesto drama, entende? Eu sou sensível. Confesso, eu não sou fácil. Meu gênio é forte e dificilmente mudo de opinião. Se você queria alguém simples, certamente não sou eu... Eu sou cheia de detalhes.

É bom que você saiba que eu sou complexa e que tenho complexos. Tenho traumas, defeitos... E é bom que você saiba também que sei disfarçar muito bem a minha insegurança, e que não vou te pedir para ficar ao meu lado. Você fica se quiser - e se eu quiser. Eu tenho uma armadura quase impermeável; se eu permitir que você entre, por favor não me obrigue a te mandar embora.

Eu não sou para qualquer um e não costumo entrar na vida de alguém para passar uma temporada; eu entro para ficar. Portanto, caso você esteja procurando um "resumo", não o encontrará em mim. Querido, eu sou sempre uma longa história...


(Roubado do @gosteieroubei, porque ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Inaugurei hoje parceria com o site Universo dos Leitores, com a coluna Universo Livre. O espaço servirá não apenas para apresentar minhas criações, mas também comentar o trabalho de outros escritores, falar sobre filmes, exposições, publicar entrevistas e o que mais pintar!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Não deixem de assistir a esta excelente entrevista com o maior escritor cubano da atualidade: Pedro Juan Gutiérrez. Além de ser um dos autores que me inspiram, um grande amigo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015


O Poema e a Andorinha
[Uma Fábula]

Era uma vez um Poema que vivia na mais alta torre de um castelo em terras longínquas. Como poema de rima rica, sempre dispensou obviedades; sempre buscou da vida ser verso profundo. Por isso, preferia a quietude e a solidão.

Em seu largo aposento, passava horas em um estado contemplativo, deleitando-se na leitura de textos clássicos, refletindo sobre a verdade, o belo, o bom. Pensando sobre o pensamento.

Às vezes, e só às vezes, ia até a janela para sentir no rosto os carinhos de sua única amiga, a Brisa – sopro suave de vento que o revigorava e lembrava de ainda estar vivo. E que podia, além de pensar, sentir. Com ela, mantinha longas conversas. Gostava de sua companhia – era delicada, meiga, mas dona de sagacidade ímpar.

Um dia, porém, uma visitante inesperada invadiu sua alcova. Uma Andorinha desgarrada, perdida de seu bando a fugir do frio.

Entrou janela adentro e, agitada, esbarrou em tudo que ali havia. Derrubou castiçais, livros, anotações. Taças de vinho espatifaram no chão.

O Poema se assustou, claro. Deitado em sua cama de dossel, através do fino tecido, observou o desespero do animal.

Foram necessários alguns minutos para que o bicho, exausto, pousasse na beirada da escrivaninha. Então, o Poema saiu sorrateiro de seu "esconderijo" e, de um pulo, agarrou o pássaro!

Com a Andorinha em suas mãos, lembrou-se de uma história que ouvira na infância, quando nem um poema era, não passava de um rabisco: a do jovem que quis enganar o sábio ancião de um certo reino.

Segundo a história, esse sábio era o mais sábio de todos os homens que viviam na Terra – nenhuma questão que lhe fosse apresentada ficava sem solução. Ele sabia tudo.

Nesse mesmo reino, vivia um rapaz que não se conformava com tamanha sabedoria; não aceitava o fato de o sábio conseguir decifrar qualquer enigma. Por muito tempo, arquitetou uma forma de pregar uma peça no ancião.

Certo dia, acreditou ter descoberto uma maneira. "Colocarei em minhas mãos, levemente fechadas, um pequeno pássaro vivo e perguntarei ao sábio se está vivo ou morto. Se ele responder que está morto, abrirei as mãos e o libertarei ao voo; se disser que está vivo, o apertarei com os dedos e o matarei. O sábio nunca poderá acertar."

Assim o fez. Expôs o pequeno animal e perguntou se estava vivo ou morto. O sábio olhou bem nos olhos do jovem e respondeu: "Isso depende apenas de você, meu filho". O rapaz, atônito e humilhado, foi embora e nunca mais tentou testar os limites de sua sabedoria.

Agora, era o Poema quem segurava um trêmulo passarinho. Podia decidir sobre sua vida ou sua morte. O destino da Andorinha lhe pertencia – e como era estranha a sensação de ter poderes sobre a sorte de uma criatura!

Correu para a janela, chamando pela Brisa. Contou-lhe da invasão, da história lendária e, por fim, da incômoda sensação de poder decidir o destino da ave – não que tivesse dúvidas: soltaria o pássaro, mas precisava compartilhar a torrente de pensamentos & sensações gerada pelo acontecimento.

Atendendo ao chamado, a Brisa soprou-lhe: "A todo instante, o destino é posto em nossas mãos; cabe a nós decidir o que fazer com ele. Na vida, quase nunca é possível escolher as situações pelas quais passamos. O contingente é uma constante – e uma constante inevitável. No entanto, é sempre possível escolher como viver tais situações. É aí que reside a liberdade, a única que podemos, de fato, exercer. É como se o sábio a quem o rapaz quis enganar estivesse nos dizendo a todo instante: Isso depende apenas de você, meu filho".

M. Gramacho

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

diversa

ele diz que sou diversa
mas, na verdade,
sou de verso. e prosa.
toda prosa. de rosa ou poá.
também me chama de linda,
e me deixa com vontades infindas...
na cama, sou gata molhadeira:
me lambuzo inteira!
mas bom mesmo é quando frisa:
"menina, você é brisa!"

M. Gramacho

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Allegro ma non troppo

Por muito ter amado o inalcançável, desaprendera a demonstrar interesse. Mas sim, desta vez estava interessada! Então, com gestos mínimos – quase mímicos – tentou fazer-se entender.
Esfregou as mãos, sinalizando frio. Deu certo. Ele as tomou entre as suas e segurou-as firme, até aquecê-las. Mais tarde, um leve esbarrar de joelhos:
– Incomodo?
– Imagina! – respondeu sem se mover.
Logo, o roçar de pernas virou afago. O que mãos e lábios não podiam fazer, coxas, joelhos e canelas fizeram sob a mesa, sem que ninguém notasse.
Menos tímida, correspondeu a cada movimento dele  numa silenciosa dança de passos cifrados.

M. Gramacho

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Meu grande amigo Marcelo Araújo acaba de lançar seu quinto livro, Casa dos sons, por meio de uma parceria com a recém criada Editora Nautilus.
Ao contrário de seus títulos anteriores (focados no suspense), neste ele conta pequenas histórias "mucho locas" baseadas, inspiradas e/ou influenciadas por canções que "fazem sua cabeça". As referências são muitas  vão do blues ao punk rock  e podem instigar os leitores.
O melhor texto, na minha opinião, é o conto Cloud Perturbadier. Gostei bastante. Lembrou-me as historietas do vanguardista russo Daniil Kharms e as narrativas de Histórias de Cronópios e de Famas, do mestre argentino Julio Cortázar.
Fica a dica!

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Hoje, no blog da Sanfer Livros, uma entrevista com esta humilde autora que vos escreve...

Para ler, clique aqui.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Literatura independente no Balaio Café
Ponto cultural tradicional de Brasília sedia lançamento de livro e revista produzidos por artistas independentes

Nesta terça-feira, 14 de outubro, a partir das 20h, o Balaio Café (SCLN 201) abre espaço para escritores e artistas independentes de Brasília, em evento que reunirá o lançamento do livro Poemas de lua cheia, da jornalista Maiesse Gramacho, e a promoção do segundo volume da revista Bacanal, organizada por Luiz Reis e Fábio Lucas.
Poemas de lua cheia é o quarto título da escritora brasiliense. A obra é uma homenagem ao poeta estadunidense Charles Bukowski, cuja morte, em 2014, completou 20 anos. "São poemas que seguem a trilha de Buk, com uma visão melancólica e, de certa forma, irônica da realidade. Nele, falo de temas como morte, desencontro, falta de perspectiva, desesperança, mas, ainda, de amor e de sonhos", revela Maiesse.
A jornalista também é autora de Histórias mínimas (2010), Sobre medos e flores (2011) e Azul inalcançável (2013) – todos publicados de maneira independente. No primeiro, Maiesse dedicou-se aos minicontos; no segundo, às crônicas; e, no terceiro, fez uma mescla entre minicontos e contos. Poemas de lua cheia é, portanto, sua primeira incursão na poesia. O livro tem prefácio da escritora baiana Lília Gramacho e posfácio do escritor e jornalista carioca radicado em Brasília Marcelo Araújo.
Bacanal – O segundo volume da revista Bacanal foi lançado em 9 de setembro último e reúne 26 artistas, muitos dos quais estarão presentes para autografar suas criações. Entre eles, os próprios Luiz Reis, Fábio Lucas, Maiesse Gramacho e Marcelo Araújo.
A revista é uma produção independente que capta vozes diversas da literatura e das artes visuais brasileiras. O volume 2 conta com a participação de escritores, poetas e artistas visuais, alguns iniciantes e outros mais experientes, mas que possuem em comum uma arte desafiadora e instigante.
De acordo com seus organizadores, a publicação tem como objetivo traçar um mapa da diversidade da literatura e das artes visuais sem uma fórmula artística que unifique os diversos colaboradores. "A Bacanal pretende ser um veículo de difusão e de aproximação para os artistas, além de dar a oportunidade de publicar seus trabalhos àqueles que não têm condições de entrar no mercado editorial", diz Luiz Reis.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Dois títulos meus estão à venda na Sanfer Livros. A livraria é toda dedicada a novos autores nacionais, um projeto bem bacana.

Visitem, descubram, ousem, surpreendam-se!

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Entre 1999 e 2000, estagiei na editoria de cultura do Jornal de Brasília. Aliás, foram os melhores tempos daquela editoria. A equipe era muito boa e tinha "química". Como editor, Severino Francisco. Como sub, Gioconda Caputo. E entre os colegas, Marcelo Araújo, Joseana Paganine, Carmem Moretzsohn, Luciana Mariz, Letícia Verdi, Marcelo Beluco, Grace Perpétuo, Marisa de Macedo-Soares, Aedê Cadaxa, Renata Caldas e, mais tarde, Erika Klingl. Éramos a "turma do fundão", ríamos muito e recebíamos, pelo menos uma vez por semana, a visita de Cassiano Nunes, que nos levava deliciosos bolos de padaria e nos fazia rir ainda mais com suas histórias sempre inciadas com um "Conheciiii... Fulano de Tal" (acabou se tornando um bordão entre nós).

Eu e Renata éramos as duas estagiárias da editoria (até a chegada da Erika), mas nunca fomos tratadas com complacência por causa disso. Era preciso saber apurar, escrever e ponto. Recebíamos pautas importantes. Exemplo disto foi quando me puseram para entrevistar ninguém mais, ninguém menos que Hilda Hilst – uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos. Também conversei com Zélia Gattai, com o poeta Waly Salomão (um grosso, por sinal) e com o cineasta João Moreira Salles. Fui enviada ao Rio para uma coletiva com Nana Caymmi e a São Paulo para cobrir a gravação do show acústico do Capital Inicial, pela MTV. Ou seja...

O irônico foi que, apesar de todo nosso trabalho, Renata e eu recebemos MM pelo nosso Relatório de Estágio Supervisionado, apresentado ao UniCEUB. Mesmo mostrando todas as nossas matérias (naquela época, podiam ser assinadas). A conservadora professora que nos avaliou se ateve aos aspectos formais do documento (número de páginas, encadernação etc.) para justificar o injustificável.

Quando contamos sobre a nota a Severino, ele se emputeceu de tal forma que resolveu escrever um artigo, o qual guardo até hoje, intitulado "O outro lado da rata". Nele, nosso querido editor questionava os critérios de avaliação da referida instituição de ensino e dava como exemplo uma situação bastante bizarra ocorrida no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, meses antes.

O Festival prestava homenagem a Glauber Rocha – uma referência para quem cobre cultura. Pois bem. Lá pelas tantas, uma repórter – formada – se aproximou da mãe do cineasta e tascou a pergunta, sem hesitar: A senhora sabe me dizer que horas o Glauber vai chegar?

O fato serviu para Severino mostrar que nós, apesar de estagiárias e de termos apresentado relatórios com menos páginas que o exigido, JAMAIS faríamos uma pergunta estúpida dessas, sobre um artista morto na década de 80. O artigo não fez nossa nota aumentar, mas mostrou os absurdos que podem ocorrer no meio acadêmico.

Faço este preâmbulo porque, recentemente, vivi uma situação do mesmo naipe.

Onde trabalho, há duas estagiárias que estudam no Icesp, no Guará. Conversando com uma delas, perguntei quem coordena o curso de jornalismo. E é alguém que conheço de nome; se não me engano, foi até da UnB. Então, pedi a ela que encaminhasse meu currículo ao professor, pois dar aulas de texto sempre foi vontade minha.

Dias depois, ela veio me contar que entregou meu CV ao sujeito. Ele olhou e, de cara, me descartou: só aceitam gente com mestrado ou doutorado.

Até aí, tudo bem. É compreensível que uma instituição de ensino superior busque docentes cada vez mais preparados. Não é isso que pretendo questionar. O buraco (deste texto) é mais embaixo.

Ocorre que as duas estagiárias que trabalham comigo simplesmente não têm ideia de como funciona o jornalismo. Não sabem escrever, não sabem atender demandas de imprensa, não têm o hábito da leitura, não consultam dicionário e, pior de tudo, desconhecem regras básicas de português. Dias atrás, li um "corrijida" (isso mesmo, com J) e um "gravidez de auto-risco" (pasmem: com u). Sem falar nos erros de pontuação e no uso de verbos declaratórios, na falta de concisão e de feeling, na dificuldade de encontrar o lide.

Tudo isso seria até perdoável, se fossem calouras. Mas não! Estão no PENÚLTIMO semestre. Penúltimo semestre significa que, em dezembro próximo, ambas serão profissionais formadas e – em tese – estarão aptas a trabalhar na Folha de S.Paulo ou na GloboNews. Ou em assessorias do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Ou, ainda, em agências de comunicação, como FSB, CDN, Máquina. Mas, repito, em tese.

O que eu gostaria de saber do distinto coordenador de jornalismo do Icesp é: o senhor realmente acha que está formando bons jornalistas? E o fato de só aceitar mestres e doutores tem melhorado a qualidade dos alunos formados?

Eu não tenho mestrado e nem sinto vontade de me tornar mestre. Mas sou formada há quase 14 anos, fiz uma pós em Comunicação Organizacional, trabalhei em diversos lugares bacanas, lancei três livros, estou finalizando o quarto, tenho um blog de cultura, morei no exterior, tive colunas de crônicas em dois jornais, editei publicações variadas, escrevi um guia de relacionamento com a imprensa para o Tribunal Superior Eleitoral, participei do processo preparatório de uma conferência da ONU e, outro dia, uma colega chamou meu texto de "primoroso". Ainda assim, não sou suficientemente qualificada para lecionar redação jornalística.

Enfim.

Não vou ficar tecendo autoelogios, porque é uma atitude pedante. Apenas gostaria de entender: de que adianta um corpo docente de mestres e doutores, se os futuros jornalistas sequer sabem escrever uma simples matéria? Por que não olhar para a experiência profissional de quem quer lecionar, em vez de priorizar um diploma? Posso estar errada, mas em cursos técnicos & práticos como o de jornalismo, penso que experiência vale mais que qualquer título.

É ou não é?


(Dedico este artigo a todos os jornalistas que me ensinaram muito, mas muito mais que qualquer professor que tive no UniCEUB: Severino Francisco, Gioconda Caputo, Ricardo Pedreira, Hélio Doyle, Paulo Fona, Luiz Cláudio Cunha, Cláudio Lysias, José Carlos Vieira, Silvana de Freitas, Ugo Braga, Rudolfo Lago.)

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Entrevista | Marcelo Araújo

"São as diferenças que nos valorizam e enriquecem"

Quem nunca passou por algum constrangimento na época da escola? Eu passei. Por causa do nome exótico, os apelidos pipocavam. E, por ser tímida, raramente revidava, me fechando ainda mais. Isso forjou a minha personalidade: tornei-me uma pessoa bastante reservada, discreta, e absolutamente incapaz de humilhações gratuitas.
Em seu novo livro, A testinha de Gabá, o escritor Marcelo Araújo fala justamente sobre o bullying, essa forma de violência, física ou moral, que pode ocorrer em qualquer ambiente, mas mais comumente no escolar. A obra é a primeira do autor destinada ao público infantil. Segundo ele, escrever para crianças "sempre foi um sonho".
A mensagem de A testinha de Gabá, de acordo com Araújo, é a de que é possível enfrentar e superar o bullying, inclusive revertendo o problema para algo positivo. "Quis mostrar que arte e educação podem ser instrumentos para combater problemas como a intolerância em relação às nossas diferenças", diz. 
Além do texto, ele assina todas as ilustrações. "Como não dispunha de técnicas de desenho, fui ilustrando a história na marra. Deu um trabalhão, mas fiquei feliz com o resultado", conta.
Marcelo Araújo – que também é autor de Não Abra – Contos de Terror (2009), Pedaço Malpassado (2010) e A maldição de Fio Vilela (2012) – falou com exclusividade ao Arquipélago da memória. Confira!

A testinha de Gabá é diferente de seus títulos anteriores, que pertencem ao universo do suspense e do terror. O que te motivou a realizar essa mudança?
Quando fiz a divulgação dos meus livros anteriores, sempre deixei claro que não queria me prender ao universo do terror. O primeiro livro que concluí, há quase uma década, ainda inédito, nada tem a ver com essa temática. Por uma série de fatos relacionados ao meu processo criativo e produtivo, publiquei três títulos de horror em sequência. Não foi um acaso, claro. Eu adoro literatura fantástica, já tenho alguns livros prontos ou sendo realizados nesse campo, que pretendo lançar em breve. Jamais deixarei de escrever sobre terror. Só não quero me prender a apenas um gênero.

Como surgiu A testinha de Gabá?
A testinha de Gabá surgiu há cerca de dois anos, enquanto finalizava meu terceiro livro, A maldição de Fio Vilela. Desde criança, sempre tive relação com desenho e artes visuais, ainda que não tenha feito cursos e me profissionalizado nisso. Também mantenho um laço informal com a música. Nunca tive carreira nessa área e pouco entendo de teoria musical, no entanto, sempre gostei de tocar e compor. Tinha escrito uma canção infantil chamada Testinha, que cantava para os meus sobrinhos. Peguei essa letra e comecei a me inspirar nuns desenhos. A partir daí, surgiu um enredo, envolvendo o bullying. Confesso que tive coragem para tocar esse projeto, pois como não dispunha de técnicas de desenho, fui ilustrando a história na marra. Deu um trabalhão, mas fiquei feliz com o resultado. Mostrei para algumas pessoas, como o Tagore Alegria, da Thesaurus, editora que publica meus livros, para sondar se aquele material tinha qualidade. As respostas foram positivas e me incentivaram a transformar esse trabalho em minha quarta obra literária.

Por que escrever sobre bullying? De onde surgiu a ideia?
Não foi algo que eu tenha planejado. A temática veio à tona justamente por conta desse detalhe da anatomia do personagem, o garoto Gabá, que tem uma testa grande e, por causa disso, sofre com uma brincadeira dos colegas na escola. Não apenas retrato o bullying, como procuro mostrar uma situação para superá-lo. No caso, o menino cria uma canção e canta para os colegas. O resultado é que a turma gosta e acaba ficando amiga do garoto. Com isso, o bullying fica para trás. Quando Gabá chega para apresentar a canção à turma, de certa forma, ele já está mais tranquilo, pois seus pais lhe mostraram que ele possui qualidades e que não deve ligar para a piada. Também procuro valorizar o papel da escola nesse cenário. A professora repreende os alunos quando eles gozam do protagonista e a aula de artes abre caminho para o desfecho "anti-bullying". Quis mostrar que arte e educação podem ser instrumentos para combater problemas como a intolerância em relação às nossas diferenças. 

O personagem Gabá é totalmente fruto da sua criatividade ou é inspirado em alguém que conhece?
Posso dizer que é fruto da minha criatividade. Agora, o subconsciente é forte. Certamente deve ter traços de pessoas que eu conheço. No livro, como sempre faço, há personagens com inspiração em amigos, familiares e conhecidos. Gosto de unir elementos da realidade para compor minhas criações. É uma atividade bem interessante. Pego elementos reais, misturo com a ficção e ideias próprias, jogo tudo em um "caldeirão" e sai algo novo.

Você sofreu bullying ou preconceito em alguma fase da sua vida? Se sim, como lidou com a experiência?
Acho que a maioria das crianças já sofreu ou sofre algum tipo de bullying. Comigo não poderia ser diferente. Lembro que na escola, no ensino fundamental e médio, era comum garotos mais fortes e maiores fazerem brincadeiras com os mais fracos e menores, algumas até com certa dose de agressividade e violência. Lembro que existia o tal do "corredor polonês", onde ficavam uns meninos formando um túnel e você tinha que passar no meio levando porrada. Parece coisa de nazista, mas quando se para e pensa que se trata de uma brincadeira realizada por crianças ou adolescentes, é de cair o queixo. Muitas vezes, ficava magoado com essas brincadeiras, mas acho que tinha um Gabá dentro de mim, me mostrando que as minhas diferenças eram meus pontos fortes e não defeitos. 

Como acredita que professores podem trabalhar para evitar a ocorrência de bullying no ambiente escolar? A literatura é um "caminho"?
Acho que combater esse problema envolve não apenas os professores, mas diretores e demais profissionais das escolas, o poder público e, certamente, os pais. Acho que hoje o bullying já é encarado como problema. Admitir uma situação errada não é o suficiente para acabar com ela, porém é melhor que escondê-la. Lembro que, na minha época de escola, o bullying era, em geral, admitido e tolerado, até mesmo por professores, diretores e pelos próprios pais. Muitas vezes, se você reclamava por sofrer algum tipo de brincadeira, constrangimento ou mesmo violência, as pessoas o taxavam de frouxo. E ai de você se fosse reclamar com o professor. Virava delator e corria o risco de apanhar na saída da escola. O sistema educacional era conivente com a situação, talvez por considerá-la normal e como parte da formação das pessoas. Foi assim também com os trotes nas universidades, que não deixam de ser bullying. Barbaridades como raspar a cabeça das pessoas, pintar o corpo delas com tinta eram consideradas normais. Até hoje, de vez em quando, um trote causa a morte de algum aluno. No caso do bullying nas escolas, foi preciso haver o Massacre de Realengo, no Rio de Janeiro, para se começar a abrir o olho para a questão, pois o jovem que assassinou aqueles doze adolescentes havia sofrido bullying.

Qual acredita ser o papel da família nessa situação?
Dialogar é a melhor saída. Eu não tenho filhos, mas acredito que o caminho seja observar sempre se há algo de errado com a criança ou jovem. E caso exista um problema, é preciso tentar entender para ajudar. No meu livro, os pais do personagem Gabá mostram a ele que não deve se incomodar com as brincadeiras bobas dos colegas e que ele é um garoto inteligente, capaz de superar o problema. E a família, penso, tem que recorrer aos professores e até mesmo às autoridades e à justiça, caso haja dificuldade em solucionar o assunto.

Como avalia a forma com que a sociedade contemporânea trata a questão das diferenças, sejam sociais, econômicas, sexuais etc.?
Melhorou muito nos últimos anos, mas ainda estamos em um patamar atrasado. Aceitar principalmente as diferenças sexuais constitui um grande desafio, em uma sociedade conservadora e pouco tolerante como a nossa. Custa ainda às pessoas entenderem que são as diferenças que nos valorizam e enriquecem. Se não aceitarmos as diferenças, jamais conseguiremos viver em coletividade.

Acredita que o Brasil seja um país preconceituoso?
O Brasil ainda vive esse mito de democracia racial, de país onde não há preconceito. Conversa! No Brasil presenciamos desde preconceitos dissimulados, com um racismo e uma homofobia disfarçados, até ações violentas, como as de grupos de skinheads. Movidos pela ignorância e fúria, contam com a complacência da sociedade, que muitas vezes vê de forma natural esse tipo de agressão. Lembro que há alguns anos um grupo de jovens de classe alta da zona sul do Rio espancou uma mulher que estava no ponto de ônibus. Tão chocante quanto o ato covarde foi eles declararem que haviam confundido a vítima, uma empregada doméstica, com uma prostituta. Quer dizer que se fosse uma prostituta eles poderiam espancá-la? E os pais ainda vieram depois dizer que se tratava de "rapazes de família", que a justiça não poderia condená-los, pois iria estragar a vida daqueles "pit boys".

Você acha que a questão do bullying tem o espaço que deveria ter na literatura nacional ou ainda carece de autores que tratem do tema?
Difícil dizer se esse tema merece espaço ou não. Acho que não é função do escritor colocar problemáticas sociais em seu trabalho. Ele pode optar por isso, sem ser obrigado. Escritor tem que criar, imaginar, colocar suas ideias no papel, sejam quais forem. Essa ideia de que arte tem de ser engajada me cheira a esse povo esquerdista que gosta de contaminar tudo com política. Mas eu até acho que esse tema tem espaço, sim, em nossa literatura. Lembremos de O Ateneu, de Raul Pompeia, livro publicado em 1888 que já tratava do bullying. No caso, o de um garoto pobre em um colégio interno que é discriminado pelos colegas e professores por conta de sua situação social.

Neste novo livro, você também assina as ilustrações. Conte-nos como foi essa experiência.
Foi fantástica. O resultado me surpreendeu por ter feito, conforme afirmei, na raça. Deu muito trabalho. Os traços são bem simples, no entanto, os comentários que ouvi me empolgaram. Disseram que os desenhos ficaram como se tivessem sido feitos por uma criança, o que considerei o máximo. Também comentaram que o traço ficou meio sujo, na linha de cartunistas de São Paulo que adoro e fizeram minha cabeça, como Glauco e Angeli.

Pensa em escrever mais livros destinados ao público infanto-juvenil?
Com certeza. Já estou fazendo os primeiros esboços para projetos futuros, nos quais vou criar o texto e as ilustrações. Sempre foi um sonho escrever para o público infantil. Um dos próximos títulos deve se chamar Badu do Bolo. Vai contar a história de uma moça que cozinha bolos deliciosos.

O que você lia na sua infância e juventude? O que recomenda para os meninos e meninas que vão ler A testinha de Gabá?
Eu tive muita influência de Monteiro Lobato, passando pelas fábulas de Esopo, os contos de fadas de Hans Christian Andersen e as histórias dos Irmãos Grimm. Esses autores, na verdade, desenvolveram um trabalho com tal qualidade que transcende o universo infantil e pode ser lido com a mesma empolgação por pessoas das mais diversas idades. Quanto ao recado para os meninos e meninas: leiam sempre. Leitura é fundamental para abrir a cabeça e nos levar a novos mundos.

E qual a mensagem que deixa para aqueles que sofrem bullying?
As brincadeiras idiotas hão de ficar para trás, porque você é muito maior do que elas. Cabeça erguida sempre!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Entrevista | Lima Trindade

"Não há nada mais importante do que a expressão artística"

No próximo dia 5, o escritor Lima Trindade apresenta ao público brasiliense seu quarto título: O Retrato ou Um pouco de Henry James não faz mal a ninguém. O lançamento será às 19h no restaurante Carpe Diem da 104 Sul.
O autor falou com exclusividade ao Arquipélago da memória, nesta primeira entrevista que o blog publica. E o bate-papo não se restringiu ao novo trabalho. Lima contou sobre sua trajetória na literatura, fontes de inspiração, influências, processo criativo e projetos futuros.
Com a sensibilidade de um observador sagaz da vida, ele revela que sua escrita pode surgir nos lugares mais inusitados, como numa festa ou durante um evento esportivo. "Escrevemos quando ninguém imagina que o possamos fazer. É como se o artista fosse dois. Ele está onde o seu corpo está e também num lugar qualquer fora dele", afirma.

Conte-nos sobre sua trajetória na literatura. Tudo começou com a revista eletrônica Verbo 21, lançada em 1999, ou é anterior a isto?
Antecede um pouco. Eu poderia dizer que começou com os fanzines, publicações independentes voltadas para a cultura underground, particularmente influenciadas pelo rock, quadrinhos, skate e poesia. Isso lá pelos fins dos anos 80. Depois, juntamente com Sandro Ornellas e Andrei do Amaral, editei um jornalzinho poético chamado Huguy Rupi que, do mesmo modo que a revista portuguesa Orfeu, teve três números finalizados, mas apenas dois lançados oficialmente. Nessa época eu escrevia versos. Porém, um dia, avaliei meus arquivos e percebi que não tinha nada de particular a acrescentar ao gênero. Foi quando decidi tentar a prosa. O primeiro conto que escrevi, "A meia sola do sapato", ganhou menção honrosa numa das edições do Concurso Paulo Leminski. Isso me animou. Outras histórias foram se desenhando na minha cabeça e fui exercitando a melhor maneira de contá-las. Até que o guitarrista da banda de rock Divine, o Wilton Rossi, outro apaixonado por livros, me convidou para dividir uma coluna de literatura dentro da revista eletrônica Bras-ilha. O projeto era de um grupo de estudantes de jornalismo da UnB. Nós fazíamos entrevistas e publicávamos ensaios e resenhas de autores nacionais e estrangeiros. Todavia, os estudantes se desentenderam e deram um fim na Bras-ilha. O Wilton então me propôs a ampliação de nossa coluna para uma revista própria, tornando-se ele mesmo o webdesigner e, nós dois, os editores. Trabalhamos juntos até 2001, quando ele preferiu se dedicar mais à música e eu prossegui adiante, tornando a Verbo 21 uma das revistas brasileiras de literatura mais longevas da web. Somente em 2005 eu viria a publicar o meu primeiro livro numa coleção coordenada pelo Marcelino Freire, na [editora] Ateliê.

Com quatro livros publicados e participações em antologias importantes, você já se considera um escritor "consolidado" ou ainda "em construção"?
Talvez um misto dos dois... Um autor consolidado e em permanente construção. Para mim, não há nada mais importante do que a expressão artística. Acho que o melhor de mim reside aí. É um propósito de existência. Um propósito consolidado de mim para mim mesmo. Se meus livros alcançarão reconhecimento público ou sucesso de vendas é uma outra história, e bem diferente. A qualidade estética não estará jamais sujeita ao reconhecimento imediato ou ao sucesso de vendas. Minha obrigação é somente a de escrever da melhor maneira que eu puder. E para isso é preciso unir a precisão da palavra à coisa que ela representa. Como as coisas e o mundo mudam o tempo todo, vivemos em eterno exercício de construção e descobertas. Nesse contexto, considerar-se pronto seria um erro.

De onde vem a inspiração, Lima?
Da observação. Da reflexão a respeito do mundo em que vivemos. Da experiência de vida. Dos sentidos.

E como é seu processo de produção? Você tem uma rotina para escrever ou escreve quando dá vontade? É metódico?
Depende. Tenho e não tenho. Cada texto tem uma vontade muita própria. Às vezes, para escrever, há uma demanda de estudo, de leituras, rotinas religiosas. Noutras, o caos impera. O ato físico da escrita é apenas uma pequena parte. E escrevemos quando ninguém imagina que o possamos fazer. Por exemplo, numa festa. Ou durante um evento esportivo. É como se o artista fosse dois. Ele está onde o seu corpo está e também num lugar qualquer fora dele. Posso dizer que sim, sou metódico. Mas meus métodos variam de um conto para outro, de um romance para outro. 

Seus livros transbordam delicadeza e, em certa medida, flertam com a melancolia, como nos contos de Todo Sol mais o Espírito Santo e na novela Supermercado da Solidão. Estou certa nesta percepção?
Acredito que sim. Mas essa percepção fala muito do próprio leitor, da qualidade das leituras, pois o que importa na literatura é essa capacidade de subjetivação, de fazer com que o fruidor viva e experimente sensações ou ideias que até então ele não imaginava ser capaz de mergulhar. E tem gente que, mesmo lendo, não consegue chegar lá. Ou não consegue compreender conscientemente o impacto de um trabalho artístico. Guardam as informações no inconsciente como uma massa bruta. O conto Todo Sol mais o Espírito Santo, embora tenha um final trágico, enaltece os sentidos da beleza do que convencionamos chamar de velho, ou antigo. Há a afirmação do corpo na maturidade como potência plena. É, em certa medida, a subversão do ideal grego de beleza. E fala muito, também, de quem somos nós, brasileiros, herdeiros de uma cultura ocidental em que a África se insinua muito forte, que a cultura indígena, principalmente a das mulheres, moldou o nosso olhar. Somos um país relativamente jovem, mas velhos mundos nos habitam. Negar essa herança é cegar-se perante o espelho. Já o Supermercado da Solidão trata do oposto. É uma novela kafkaniana que investiga a impotência, a destituição do indivíduo diante de uma organização de poder virtual. As personagens são melancólicas por lutarem contra um inimigo invisível. Os níveis de violência a que estamos submetidos sem que percebamos ou compreendamos com exatidão. Daí, a fragilidade e a delicadeza.

Em seus livros, você fala sobre os sentimentos de forma bastante sincera, sem meias palavras. As histórias relatadas são baseadas em experiências vividas? Se sim, o que te impulsiona a escrever sobre você?
Muitas delas, sim. Se eu não as vivi inteiramente, passo a vivê-las no momento da escrita. Porém, não sou fiel a essas experiências. Quero dizer, as experiências sofrem interpretações e reinterpretações. Não faço autobiografia. E se a vida é incoerente, a arte não o é. A literatura sintetiza e potencializa determinadas questões da vida real. Escrevo sobre mim e sobre o outro. O comum entre nós e também o desconhecido. Parto sempre de uma pergunta que, por uma razão qualquer, me incomode. A pergunta vem de uma lacuna na minha história pessoal, um vazio no presente, uma dúvida de futuro. E nunca sei exatamente onde vou chegar.

Entre os livros que já publicou, algum te cativa de modo especial?
Não. Gosto de todos de maneiras diferentes. Sou um autor que não aprecia se repetir. Se não tiver um desafio na investigação de um tema ou uma nova maneira de trabalhar um velho assunto, acrescentando um olhar inaugural, prefiro não escrever.

Você se alterna entre o conto e o romance. Gosta dos dois gêneros de forma igual ou tem preferência por algum deles?
Minha preferência é por textos bem escritos, não importa se curtos ou longos, prosa ou poesia. Eu não antecipo a extensão ou o gênero em que trabalharei. Há histórias ou questões que demandam maior ou menor investimento. Não troco um único conto bem realizado por pilhas de romances rastaqueras. Jamais leio para "passar o tempo".

Como lida com a crítica? Que avaliação faz da crítica literária no Brasil, atualmente?
Críticas sérias são sempre bem-vindas. Sejam elas positivas ou negativas. A crítica especializada enriquece as possibilidades de leitura de um texto. É benéfica para o autor e para o leitor, que não fica preso somente à superfície da palavra. O momento da crítica no Brasil é bastante complicado. Ela sobrevive quase que exclusivamente nos bancos das universidades. E timidamente na internet. Há, sim, um predomínio de resenhas e notícias da vida literária. Fala-se do prêmio X para o autor Y. O lançamento do livro A do contista B. Destaca-se o tema de um romance Z, entrevista-se o autor G a respeito das eleições, dos realities show, do hit funk do verão. As qualidades ou peculiaridades de determinado texto são levemente resvalados. Suprime-se a análise cuidadosa, o trabalho minucioso de avaliação e desvelamento de características enriquecedoras de uma estética.

Sei que seu mestrado tratou de João Silvério Trevisan, Reinaldo Arenas e David Leavitt. Qual foi o foco do seu estudo?
Estudei as personagens gays assumidas nos contos desses três autores e a forma como elas dialogavam com a Igreja, o Estado e a Família tradicionais, instituições supressoras da liberdade individual e reguladoras do desejo e da felicidade humanas. Contudo, ao invés de utilizar ferramentas teóricas da crítica literária, articulei minha leitura com base na teoria anarquista, particularmente Proudhon. Ou seja, uma loucura!

Além desses três, quem mais te influencia? Ou, ainda, que nomes encontramos na sua biblioteca?
Uma infinidade de autores: Cervantes, Shakespeare, Mário de Sá-Carneiro, Carlos Drummond de Andrade, Gasparino da Mata, João Antonio, Marguerite Yourcenar, Jean Genet, Yukio Mishima, Cecília Meireles, Lima Barreto, Marques Rebelo, Walt Whitman, John Fante, Caio Fernando Abreu, John Steinbeck, Tolstói, João do Rio, Roberto Piva, Sidney Rocha, Mário Quintana, Jorge Amado, Rimbaud, Christopher Isherwood, Florbela Espanca, Henry James, Ana Cristina Cesar, Baudelaire, Paulo Scott, Julio Cortázar, Sandro Ornellas, Jack Kerouac, Luís Capucho, Sonia Coutinho, Carson McCullers, Cintia Moscovich, Graciliano Ramos, Kafka, Konstantino Kaváfis, Nelson Rodrigues, Truman Capote, Tom Correia, Wladimir Cazé, Allen Ginsberg e muitos, muitos outros. Tenho uma biblioteca imensa e não sei mensurar qual o grau de influência desses livros sobre mim.

Pode nos contar um pouco mais sobre o livro que está lançando, O Retrato ou Um pouco de Henry James não faz mal a ninguém?
Trata-se de um conto longo em que um casal brasileiro se vê numa situação inusitada ao visitar Portugal. É uma história de amor. Ou um livro de viagem. Ou conto de terror. Não sei bem...

Há outro projeto em andamento?
Finalizei, esses dias, a primeira versão de um romance chamado A Cidade e os Nomes. Por hora, dorme na gaveta. Se tudo der certo, pretendo publicá-lo em 2015.

Deixe sua mensagem para aqueles que sonham se tornar escritores.
Leiam sempre. Exijam de si o que esperam encontrar num autor desconhecido.

Sobre o autor: Nascido em Brasília nos agitados anos 1960, Lima Trindade atualmente reside em Salvador, Bahia. Mestre em Letras, estuda sistematicamente as obras dos autores que mais admira, destacando-se João Silvério Trevisan, Reinaldo Arenas e David Leavitt. Edita mensalmente, desde 1999, a revista eletrônica Verbo 21. É autor de Todo Sol mais o Espírito Santo (2005), Supermercado da Solidão (2005), Corações Blues e Serpentinas (2007) e O Retrato ou Um pouco de Henry James não faz mal a ninguém (2014).

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Meu Histórias mínimas foi citado como "Dica de Leitura" pela Biblioteca Pública do Estado da Bahia! Muito bom! Ainda mais por ter sido algo totalmente espontâneo.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

"(...) É assim que todo o curso de uma vida pode ser desviado – por não se fazer nada. Na praia de Chesil, ele poderia ter gritado o nome de Florence, poderia ter ido atrás dela. Ele não sabia, ou não teria querido saber, que, enquanto ela fugia, certa na sua dor de que o estava perdendo, nunca o amara tanto, ou mais desesperadamente, e que o som da voz dele teria sido seu resgate, e que ela teria voltado atrás. Em vez disso, ele permaneceu num silêncio frio e honrado, na penumbra do verão, a observá-la em sua precipitação ao longo da orla, o som do seu avanço difícil perdendo-se entre o das pequenas ondas a quebrar na praia, até ela ser apenas um ponto borrado, desaparecendo na estrada estreita e infinita de seixos brilhando sob a luz pálida."

Ian McEwan, Na praia

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O blog A garota do livro publicou comentários sobre meus livros e, também, uma entrevista com a autora que vos fala. Para facilitar, reproduzo o pingue-pongue abaixo. Boa leitura!

Com quantos anos você começou a pensar em publicar?
A vontade de publicar um livro sempre existiu. Mas só em meados de 2009 (com 32 anos, portanto) tive condições de transformar esse sonho em realidade. Foi quando reuni o material que viria a compor Histórias mínimas, publicado em abril de 2010. E, também, quando tive condições financeiras de bancar a publicação.

De onde vem tanta inspiração?
De diversos "lugares", eu diria. Primeiro, de muita leitura; segundo, de acontecimentos do cotidiano; terceiro, da minha sensibilidade; e, quarto, da minha coragem para enfrentar as duras verdades existenciais da condição humana. Em Azul inalcançável, penso, é onde tudo isto se revela de forma mais clara. Nele, volto meu olhar para aspectos sutis do cotidiano: as contradições nossas de cada dia, as dificuldades que encontramos para nos comunicar, as dúvidas que muitas vezes povoam nossas almas e os medos que nos impedem de tomar atitudes capazes de mudar destinos.

Sua família deu apoio?
Sim, total. Família e amigos. Foi uma "festa" quando anunciei que publicaria um livro! Mas a pessoa que ficaria mais feliz, meu pai Jair Gramacho Filho, infelizmente não pôde vivenciar essa alegria. Ele, que era professor de literatura e foi meu mentor intelectual, faleceu há oito anos.

Tem algo que você gostaria de ter posto no livro, mas teve vergonha?
Com certeza! A versão do conto "Criaturas raras" que consta de Histórias mínimas foi editada. A versão original é bem mais erótica. E olha que esta que está no livro já transborda erotismo...

De qual parte e de qual livro você mais gosta?
Gosto dos três igualmente. Dizem que Azul inalcançável, lançado ano passado, é bem diferente dos meus dois títulos anteriores (Histórias mínimas, de 2010, e Sobre medos e flores, de 2011). Não sei. Prefiro acreditar que os três "conversam" entre si e revelam muito de mim. O primeiro, uma mulher intensa, que vive suas experiências com honestidade; o segundo, uma observadora do cotidiano, de olhos atentos; e o terceiro, alguém que possui mais perguntas que respostas.

Há 10 anos você imaginava sua vida assim?
Na verdade, não. Tinha outros planos, mas a vida me levou por outro caminho.

E daqui a 10 anos como você imagina sua vida?
Prefiro não imaginar. Algumas mudanças começam a se delinear, mas prefiro deixar acontecer. Só peço a Deus saúde. Em termos de literatura, espero publicar alguns livrinhos mais... Agora, já trabalho no quarto título, que será de poemas e deve sair em 2015.

Quais seus autores e obras prediletas?
São tantos! Mas vamos lá: Albert Camus, Franz Kafka, Milan Kundera, Daniil Kharms, Charles Bukowski, Ian McEwan, Mario Benedetti, Juan Ramón Jiménez, Pedro Juan Gutiérrez, Dalton Trevisan, Caio F. Abreu, Raduan Nassar, Adonias Filho, Marguerite Duras, Hilda Hilst, Clarice Lispector; Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes, Paulo Leminski... São nomes que você vai encontrar na minha biblioteca.

Último livro lido?
O africano, de Jean-Marie Gustave Le Clézio.

Se fosse um personagem, qual você desejaria ser e qual época desejaria viver?
Tenho uma especial simpatia pela personagem Sabina, de A insustentável leveza do ser (Milan Kundera). Compartilho de muitos dos conflitos internos dela, das dúvidas, e também vejo semelhança na forma com que ela se relaciona com o amor, o sexo, o compromisso. Quanto à época, acho os anos 50 e 60 bem interessantes.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Hoje, meu "filho" do meio faz três anos. Sobre medos e flores foi lançado em 2 de abril de 2011, no (finado, que pena) Café com Letras da 203 sul, em Brasília. Como o tempo voa!
Este título foi o que mais ganhou simpatizantes – e simpatizantes de todo o Brasil. Ele está no Acre, no Mato Grosso, na Bahia, no Maranhão, no Rio de Janeiro, em São Paulo, Santa Catarina... E atravessou as fronteiras, alcançando o Canadá e a Espanha.
Acredito que a razão para isto seja o fato de Sobre medos e flores ser um livro despretensioso, divertido, leve, feminino, que aborda coisas comuns. É o cotidiano "filtrado" por minha visão pessoal, a qual coincide com a de outras pessoas.
Obrigada a todos que prestigiaram o lançamento há três anos, aos que leram depois, aos que me contaram suas impressões e aos que, ainda hoje, publicam fotos, citam trechos e me ajudam a divulgar este singelo "pedaço de mim"!

segunda-feira, 31 de março de 2014

"(...) Apaixonar-se terminara por lhe revelar quão estranha ela era, e o tanto que se mantinha confinada nos seus pensamentos cotidianos. Toda vez que Edward perguntava: 'Como você está?', ou: 'No que está pensando?', ela sempre se saía com uma resposta canhestra. Será que precisara de todo esse tempo para se dar conta de que lhe faltava um parafuso que todo mundo tinha, um mecanismo tão comum que ninguém nunca o mencionava, uma conexão sensual e imediata com as pessoas e os acontecimentos, e com suas próprias necessidades e desejos?"

Ian McEwan, Na praia 

segunda-feira, 17 de março de 2014

"(...) Os africanos costumam dizer que não é do dia em que saem do ventre materno que as pessoas nascem, mas sim do lugar e do instante em que elas são concebidas. Quanto ao meu nascimento, nada sei (o que aliás, suponho, ocorre com todo mundo). Se porém entro em mim mesmo, se volto os olhos para dentro, é essa força que eu percebo, essa efervescência de energia, a sopa de moléculas prestes a se unir para formar um corpo. E, antes mesmo do instante da concepção, tudo aquilo que o precedeu, que se encontra na memória da África. (...)"

J.-M. Gustave Le Cézio, O africano

quinta-feira, 13 de março de 2014

O miniconto nosso de cada dia:

– Eu sempre te "vendo", amiga.
– É mesmo?! Aproveita, então, que estou de promoção.
– ...
– Peça de mostruário, com pequenos arranhões.
– Ah, eu estou pior que você: peça com avarias!

(Nada como enfrentar as próprias "tragédias" com bom humor!)

sábado, 8 de março de 2014

Há exatamente um ano, no Dia Internacional da Mulher, eu lançava meu terceiro livro: Azul inalcançável.
Azul é meu "filho" mais novo, porém o considero o mais maduro, literariamente falando. Nele, por meio de minicontos e contos, proponho reflexões a partir da provocação clariceana: "Para vermos o azul, olhamos para o céu. A Terra é azul para quem a olha do céu. Azul será uma cor em si, ou uma questão de distância? Ou uma questão de grande nostalgia? O inalcançável é sempre azul".
A proposta do livro é nos conduzir aos recônditos do nosso ser e a tudo aquilo que consideramos inalcançável – um amor, uma mudança de vida, uma reconciliação (com o outro ou conosco)...
A ideia de Azul inalcançável dormitava em mim desde que me entendo por gente. Sempre flertei com a temática que norteia a obra, com as impossibilidades impostas pela sociedade, por nós mesmos ou pelas circunstâncias.
Dizem que Azul é bem diferente dos meus dois títulos anteriores. Não sei. Prefiro acreditar que os três "conversam" entre si e revelam muito de mim. O primeiro, uma mulher intensa, que vive suas experiências com honestidade; o segundo, uma observadora do cotidiano, de olhos atentos; e o terceiro, alguém que possui mais perguntas que respostas.
Para os que me acompanham, uma boa notícia: já estou trabalhando no quarto livro. Desta vez, não serão minicontos, contos nem crônicas, e sim poemas.
Não tem sido fácil me dedicar a este projeto, pelas questões práticas da vida – que nos tomam tanto tempo e energia. Mas, na medida do possível e quase sempre acompanhados de uma dose de uísque, os poemas estão surgindo...
O que posso adiantar? Que revelará mais uma faceta minha – eu, que sou tantas em uma. Como escrevi em Azul inalcançável, é como se eu fosse uma daquelas bonecas russas, das quais de dentro de uma sai outra e mais outra... Menor, mas não menos importante. Pelo contrário: cada vez mais essencial.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Notícia triste: morreu hoje o artista plástico Glênio Bianchetti, um dos grandes nomes da arte brasileira contemporânea. Ele veio para Brasília na década de 1960, a convite de Darcy Ribeiro.
Estive na casa-ateliê de Bianchetti em 1999, quando trabalhava na editoria de cultura do Jornal de Brasília. E tirei uma foto linda, com um de seus painéis ao fundo. Extremamente gentil e atencioso, me recebeu bem, embora eu fosse apenas uma repórter estagiária de vinte e poucos anos.
Que descanse em paz.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Meu epitáfio: "O essencial da nossa vida é que fique, em algum lugar, o fruto da nossa bondade" – Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Literatura eu faço, cinema eu comento.
Estou fazendo um curso sobre crítica cinematográfica e análise fílmica, e a primeira tarefa foi escrever sobre um filme muito ruim e outro muito bom.
Abaixo, o meu "dever de casa":

Sex and the city 2 (Michael Patrick King, EUA, 2010)
Para os fãs da divertida (e premiadíssima) série estadunidense Sex and the city, o segundo filme que reúne o quarteto de mulheres nova-iorquinas deveria vir acrescido do subtítulo "O desastre". Isso mesmo: Sex and the city 2 – O desastre.
O filme mais parece uma tentativa desesperada de não deixar que a série seja esquecida, mas se torna um verdadeiro "samba do crioulo doido" ao reunir as personagens em cenários que vão da cosmopolita Nova York a um simples mercado no Marrocos, colocando-as em situações insólitas e coincidências absurdas – no Ocidente e no Oriente.
O filme peca do início ao fim por excessos desnecessários (que excessos não são?!), o que pode ser percebido logo nas primeiras cenas. Uma Carrie exageradamente fashionista e mimada, que veste um smoking para comparecer ao casamento pra lá de cafona de dois amigos gays. Mas o pior ainda está por vir: Liza Minnelli, em trajes mínimos, cantando Beyoncé na tal cerimônia, numa cena bizarra e patética.
Além disso, a história das quatro mulheres, que havia sido tão bem "amarrada" no primeiro filme, é resgatada para expor as personagens a situações falsamente dramáticas, que não convencem até quem não acompanhou as seis temporadas da série. Personagens antes bem construídos se fragilizam e se despedaçam na tela e nos corações dos fãs. Que lástima. (MG)

Sozinho contra todos (Gaspar Noé, França, 1998)
Sozinho contra todos não é um filme para principiantes. Trata-se de uma narrativa visceral sobre a miséria humana: o desespero, a solidão, a decadência social, os valores (ou a falta deles) e as neuroses do homem moderno. O protagonista é um sociopata no sentido estrito, um homem à beira do abismo, perturbado por um amor incestuoso. A obra, de maneira nada sutil, mostra que ser amoral ou imoral, em alguns casos, dá igual.
Com ritmo pulsante – como em outros trabalhos do mesmo diretor (Irreversível é o melhor exemplo) –, o filme se desenrola em um espaço estranho e alucinante, incômodo: ora real, ora memória, ora fantasia. A alteração psíquica do protagonista conduz toda a obra e ao espectador é dada, literalmente, a oportunidade de sair do cinema ou de se tornar testemunha do que está por vir – antes dos momentos mais brutais, um letreiro estroboscópico (recurso também utilizado em Irreversível) avisa que cenas fortes estão por vir em 30 segundos.
Completamente alterado e autorreferente, o protagonista – um açougueiro ex-presidiário – vive em um universo particular de solidão, desesperança e ódio, vagando por um labirinto de loucura, obcecado pela filha, a quem deseja de maneira doentia.
Sozinho contra todos é um filme magistral, que causa repulsa e seduz ao mesmo tempo. Um clássico do cinema moderno: profundo, cheio de poesia (sim!) e fúria. (MG)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Lendo as notícias sobre a morte terrível do ator estadunidense Philip Seymor Hoffman, me deparo com a belíssima mensagem escrita por Jim Carrey: "Para os mais sensíveis entre nós, o barulho pode ser muito alto". (Quantas vezes o "barulho" me pareceu tão alto que também tive vontade de desistir?!)
Sobre a outra perda do fim de semana, o trágico "fim" do cineasta brasileiro Eduardo Coutinho, nem há o que comentar... Conheci (no sentido de ter visto pessoalmente) Coutinho em uma edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Em 2002, seu fantástico Edifício Master me impressionou profundamente. Como se cada um daqueles pequenos apartamentos fosse, em si, um miniconto.
Que descansem em paz.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Como escreveu o velho Buk:

É muito fácil parecer moderno
Enquanto se é na realidade o maior idiota jamais nascido

(Vale para um monte de gente que cruza meu caminho vida afora.)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

"Estou aprendendo a ver. Não sei o que provoca isso, tudo penetra mais fundo em mim, e não para no lugar em que costumava terminar antes. Tenho um interior que ignorava. Agora, tudo vai dar aí. E não sei o que aí acontece.
Hoje escrevi uma carta e ocorreu-me que faz apenas três semanas que estou aqui. Três semanas em outro lugar – por exemplo, no campo – poderiam ser como um dia; aqui são anos. Também não quero mais escrever cartas. Para que diria a outra pessoa que estou me modificando? Se me modifico, já não sou aquele que fui, sou algo diferente do que até agora era, então é evidente que não tenho conhecidos. E é impossível escrever cartas para gente desconhecida, gente que não me conhece."

Rainer Maria Rilke, Os cadernos de Malte Laurids Brigge

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O meu 2014 será regido por este pensamento do poeta Thiago de Mello: "Não tenho caminho novo, o que tenho de novo é o jeito de caminhar."

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Las hojas caídas obstruyen el camino.
Imagino que soy el que no soy.
Aquí me estoy muy quieto.
Procuro no moverme
y ocupar el mínimo espacio.
Como si ya no estuviese allí.
El silencio es el original,
las palabras son la copia.

Joan Brossa i Cuervo, Fin del ciclo

A todos, Feliz Natal! Fico por aqui, por enquanto. Nos vemos em 14.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

"Minha mãe me ensinou a rezar; ensinou‑me a oração que a mãe dela havia lhe ensinado. 'Agora que vou dormir, peço ao Senhor que cuide da minha alma.' À noite, eu me ajoelhava diante de minha caminha enquanto ela ficava de pé, com seu eterno cigarro, ouvindo‑me repetir depois dela. Eu só queria fazer minha oração, mas aquelas palavras me perturbavam, e eu a enchia de perguntas. O que é a alma? De que cor ela é? Eu desconfiava de que minha alma, travessa, podia fugir enquanto eu sonhava e não conseguir mais voltar. Fazia de tudo para não pegar no sono, para manter a alma dentro de mim, onde era seu lugar."

Patti Smith, Só garotos

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

I've been walking alone through life
Since I was a little child
Looking for love day and night
But now all I wanna do
Before I die
Is whisper in your ears
"I miss you"
And there's no need to reply:
"I miss you too"
'cause I know it's not true
Just listen, before I die.

M. Gramacho, 1º/12/13
(Levemente inspirada na poesia de Sylvia Plath.)

terça-feira, 26 de novembro de 2013

No domingo, fui passear na 31ª Feira do Livro de Brasília e aproveitei para prestigiar a sessão de autógrafos da última obra de José Carlos Vieira, cujo título é tão gostoso quanto um gole de vinho tinto sob a lua cheia: Poemas de paixões e coisas parecidas.
Antes dos autógrafos, Zé falou sobre seu processo criativo, autores que influenciam, músicas que inspiram etc. Leu alguns versos, tímido. E respondeu a perguntas do público (a maioria, dispensável; mas, enfim, todas educadamente respondidas).
José Carlos é meu amigo há muitos anos. Muitos mesmo. Só agora, escrevendo este post, me dei conta: nos conhecemos em 2003. Ou seja, há dez anos.
Nossa "história", se posso chamar assim, começou por correspondência: enviei para ele alguns poeminhas meus, comentei alguns dele. Então marcamos um vinho, num café de jornalistas que nem existe mais. Eu não sabia como ele era e vice-versa. Mas a gente se reconheceria. Os que têm a alma impregnada de poesia se reconhecem, sabem que são da mesma raça, exalam o mesmo perfume.
Pois bem. O encontro. Noite formidável! Falamos muito e basicamente de literatura. Como foi bom poder falar sobre o "velho sujo" sem ter de explicar quem ele é! Os poemas melancólicos, bêbados e lindos de Charles Bukowski foram lembrados e devidamente homenageados por nós, numa época em que duas, três taças não davam multa de trânsito.
Desde então, estamos sempre em contato, embora os encontros sejam raros. Trocamos impressões sobre a lua cheia, poemas, crônicas e, recentemente, até letra de música. Em 2010, o escolhi para escrever a apresentação do meu primeiro livro, Histórias mínimas. Texto belíssimo – no tom exato dos minicontos que compõem o meu debut –, pelo qual serei eternamente grata.
Hoje, porém, todas as atenções devem se voltar a este especial escritor "braziliense" (com "z", saca?!): por seu novo livro, por insistir na poesia e, sobretudo, por não perder a ternura jamás... Afinal, escreve: "enquanto o verbo | age | o adjetivo | sonha".

Eu te aplaudo de pé, Zé!

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

"De repente, o boi explodiu. Rebentou sem um múúú. No capim em volta choveram pedaços e fatias, grãos e folhas de boi. A carne eram já borboletas vermelhas. Os ossos eram moedas espalhadas. Os chifres ficaram num qualquer ramo, balouçando a imitar a vida, no invisível do vento."

Mia Couto, O dia em que explodiu Mabata-bata

(Começo a ler este conto do escritor moçambicano e sou invadida por um sentimento de nostalgia: as minhas férias na fazenda, as brincadeiras com meus primos, o gado do meu avô, o curral, os tantos pastos percorridos a cavalo, os vaga-lumes iluminando a noite... Literatura boa faz isto: desperta um mundo interior e anterior; emociona!)

sábado, 9 de novembro de 2013

Angustiante, Lore (Cate Shortland, Reino Unido/Austrália/Alemanha, 2013) vale cada centavo do ingresso. Não que seja daqueles filmes que te fazem sair do cinema boquiaberto, mas é extremamente bem feito: direção, roteiro, atores, reconstituição de época, trilha sonora... Mostra a terrível saga de uma família alemã após a morte de Hitler e a invasão da Alemanha pelos aliados. Uma Alemanha destruída material e moralmente, onde inocentes (só que agora alemães, não judeus) continuam a arcar com as consequências do Nazismo. A jovem Saskia Rosendahl está perfeita como Lore, mas preste atenção à irmã do meio, Liesl, vivida por Nele Trebs. Para mim, a personagem que melhor incorpora o peso da tragédia humana retratada no filme. Quatro estrelas. Vá ver!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

"Postiçoso. Tenho sido. De circo, me movendo no extenso corpo do trem, na redondez do mundo, inflado, mas ainda réplica achatada dos pensares de dentro, de circo sim, atuando como se fosse aquele que apresenta ao público o domador, o palhaço, a moça do cavalo, aquele de gravatoso pretume, o apresentador, mas lá no invisível se sabendo o tigre, a cambalhota, a viva cavalidade."

H. Hilst, Tu não te moves de ti

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Pedalando com Molière (Philippe Le Guay, França, 2013) é uma comédia leve, despretensiosa e, ao mesmo tempo, inteligente. Com excelentes atuações de Fabrice Luchini (no papel de Serge Tanneur, irretocável) e de Lambert Wilson (que vive o ator Gauthier Valence), o filme presta delicada homenagem a um dos maiores dramaturgos de todos os tempos: Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière (1622-1673). Em resumo: Gauthier resolve encenar a obra-prima do mestre francês, O Misantropo. Para isso, contata o colega Serge, que vive recluso justamente por compartilhar dos pontos de vista de Alceste, personagem principal da referida peça. A partir daí, o filme se torna também uma bonita homenagem à amizade. Além, claro, de fazer críticas ora sutis ora escrachadas aos costumes e ao comportamento humano – estamos falando de O Misantropo, não poderia ser diferente! Os motivos para Alceste desprezar a humanidade não mudaram tanto assim... Sou suspeita para falar, porque adoro a combinação "inteligência com bom humor", e isto vem na medida nesta película que, no entanto, exige algum conhecimento prévio do espectador para ser compreendida em sua plenitude. 
Em tempo: misantropo é aquele que tem aversão à hipocrisia que permeia a vida em sociedade. Por isso, prefere viver isolado, confinado.
Três estrelas. Recomendo.

domingo, 3 de novembro de 2013

Uma primavera com minha mãe (Stéphane Brizé, França, 2013) tinha tudo para ser um filmaço, mas não é. Comove, sim; no entanto, é superficial. Apenas arranha a superfície de um tema extremamente complexo e profundo (o direito ao suicídio assistido por quem tem doenças sem volta) por meio de uma história de conflito entre mãe e filho. História esta cheia de tensão, beirando o exagero. O protagonista não convence em seu ressentimento, e o melhor do filme acaba sendo a cena final – esta sim na medida da realidade, com grande carga emocional, capaz de fazer os mais sensíveis chorar. Três estrelas.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A minha cara no espelho.
Examino meu rosto invertido, de frente para mim. Esses olhos de cores diferentes, um mais claro que o outro. Quase não se nota, só quem é atento a detalhes. A diferença fica mais nítida no pôr do sol, vai entender...
O nariz meio bonito, meio feio. De frente, um tanto grosseiro; de perfil, empinado. Tudo em meu rosto remete à oposição. Não há simetria, correspondência exata.
As sobrancelhas grossas e arqueadas são bonitas, gosto delas.
Estudo minha boca; o que mais gosto em meu rosto. Lábios bem contornados, nem finos nem grossos: na medida.
Esboço um sorriso. Os dentes. Também gosto deles, mas é fato que preciso usar aparelho na arcada inferior. Talvez ninguém note, mas eu vejo muita coisa fora de ordem ali.
Observo as orelhas. São pequenas, delicadas. Mas são feias. Não, não há nada de errado com elas, só são feias como todas as orelhas do mundo são.
O queixo, por sua vez  e ao contrário das orelhas , é bem marcado, quadrado, masculino.
Toco minhas bochechas. Sinto a textura da pele, que insiste numa adolescência tardia. "Pele oleosa dá menos ruga", lembro de ter ouvido alguém dizer. Menos mal.
Rugas. Reparo no canto dos olhos e sorrio novamente. Sim, algumas já estão ali. Pés de galinha, crow's feet. Não me incomodam. Pelo menos, não tanto quanto a cicatriz debaixo do olho esquerdo. Mas dela não gosto de falar. Entramos num acordo, eu e a cicatriz: a carrego no rosto, mas nunca conversamos.
A minha cara no espelho e a pergunta: o que vejo refletido é o mesmo que você vê?!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Como já escrevi em post anterior, às vezes a gente lembra de coisas que estão há muito afundadas no nosso "lago da memória". Hoje, sei lá o porquê, me lembrei do dia em que vi um anjo. Isso mesmo: um anjo! 
Eu tinha entre cinco e seis anos e me lembro desse acontecimento com perfeição, mesmo passadas três décadas.
À época, eu morava em um bloco de apartamentos na 710 norte, aqui mesmo em Brasília. O apê era "vazado", e o meu quarto ficava voltado para a parte traseira do edifício.
Numa tarde, estava eu saindo do banheiro (meu quarto era, na verdade, uma suíte) quando escutei um barulho; a porta do banheiro ficava bem próxima à janela do quarto. Imediatamente, voltei meu olhar para fora. E o que eu vi, com estes olhos que a terra há de comer?! Um anjo!
Ele estava lá, suspenso no céu, com asas enormes. Foi tudo MUITO rápido, mas o suficiente para eu gravar essa imagem na minha mente. Era um ser esguio, bonito. Suas asas e suas vestes (algo como uma bata longa) eram amarronzadas.
Assim que olhei para ele, ele voou, sumindo rapidamente. E eu, com o coraçãozinho a mil por hora, saí correndo chamando por meu pai: Pai, pai! Eu vi um anjo! Um anjo, pai!
Meu pai segurou minha mão e voltou comigo ao quarto:
 Um anjo, filhinha? Onde?
 Eu estava saindo do banheiro, pai, e vi ele parado ali, pela janela. Quando eu olhei para ele, ele voou, foi embora!
Com toda a doçura que sempre teve com crianças, meu pai duvidou delicadamente:
 Será que não foi um passarinho? Uma pomba?
 Não pai, era um anjo. Eu sei.
Meu pai não falou mais nada, que eu me lembre. E a vida seguiu em frente.
Apesar da pouca idade, não senti medo, não pedi para dormir com meus pais, não fiz xixi na cama. Às vezes espiava a janela, na esperança de ver o anjo novamente, mas ele nunca mais apareceu.
Anos depois, descobri que faço aniversário no Dia do Anjo da Guarda  coincidência interessante para quem, quando criança, viu um anjo. Não?!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

"Reiko fitou por algum tempo meu rosto, aprofundando as rugas dos cantos dos olhos.
– Seu jeito de falar é esquisito, sabia? - comentou ela. – Por acaso você está tentando imitar aquele rapaz de O apanhador no campo de centeio?
– De jeito nenhum – respondi rindo.
Reiko também riu com o cigarro na boca.
– Mas você é sem dúvida uma excelente pessoa. Percebo isso só em olhá-lo. Depois de sete anos morando aqui e depois de ver uma enorme quantidade de gente chegando e indo embora, posso sentir a diferença entre pessoas capazes de abrir seu coração e as que são incapazes disso. Você é daquelas que conseguem. Para ser mais exata, consegue se quiser.
– O que acontece quando as pessoas abrem o coração?
Mantendo o cigarro entre os lábios, Reiko juntou as mãos sobre a mesa num gesto alegre.
– Elas se recuperam – disse ela, sem prestar muita atenção às cinzas do cigarro que caíam sobre a mesa."

H. Murakami, Norwegian Wood

sábado, 12 de outubro de 2013

Eu com meus escuros. E silêncios. "Você precisa lançar um novo olhar sobre si mesma"  a afirmação reverberando nos meus ocos.
Penso. Como ser mais generosa comigo, como despejar a austeridade e dar morada à complacência? Não, neste processo não deve entrar autocomiseração, e sim perdão.
Ganhar simpatia por si mesma. Ganhar simpatia por si mesma! Não se comparar. Pôr fim ao complexo de inferioridade.
Perdoar-se.
Perdoar-se.
Perdoar-se.
Eu com meus escuros. E silêncios. Penso.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Depois de dias sem ter tempo para atualizar o blog, por razões profissionais, volto com uma notícia bacana: o site Universo dos Leitores publicou hoje uma entrevista comigo.

Para conferir, clique aqui.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

No meu "flerte" com a psicanálise, eis que me deparo com uma ideia belíssima de J. D. Nasio, n'O livro da dor e do amor:

"Em si, a dor não tem nenhum valor nem significado. Ela está ali, feita de carne ou de pedra, e no entanto, para acalmá-la, temos que tomá-la como a expressão de outra coisa, destacá-la do real, transformando-a em símbolo. Atribuir um valor simbólico a uma dor que é em si puro real, emoção brutal, hostil e estranha, é enfim o único gesto terapêutico que a torna suportável. Assim, o psicanalista é um intermediário que acolhe a dor inassimilável do paciente, e a transforma em uma dor simbolizada."

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Sozinha nos trilhos eu ia,
coração aos saltos no peito.
O espaço entre os dormentes
era excessivo, ou muito estreito.
Paisagem empobrecida:
carvalhos, pinheiros franzinos;
e além da folhagem cinzenta
vi luzir ao longe o laguinho
onde vive o eremita sujo,
como uma lágrima translúcida
a conter seus sofrimentos
ao longo dos anos, lúcida.
O eremita deu um tiro
e uma árvore balançou.
O laguinho estremeceu.
Sua galinha cocoricou.
Bradou o velho eremita:
"Amor tem que ser posto em prática!"
Ao longe, um eco esboçou
sua adesão, não muito enfática.

E. Bishop, Chemin de Fer

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Ontem foi um dia bastante estranho para mim. Explico: sofro de ansiedade e às vezes, do nada, o corpo libera uma carga desnecessária de adrenalina: o coração acelera, as mãos ficam frias, o peito aperta, o choro brota fácil e dá uma vontade danada de engatinhar para debaixo das cobertas e ficar no quentinho, no escuro, no silêncio. Até a sensação sufocante passar. Mas, obviamente, quase nunca isso é possível. E raras são as pessoas que entendem o problema e sabem respeitar as pausas necessárias nessas horas.
Nesta quinta-feira, a ansiedade foi tanta que precisei de uma "pausa de emergência". Saí mais cedo do trabalho e fui para casa.
Algumas gotas de clonazepam depois, tinha duas opções: me enfiar debaixo do edredom ou correr para o clube e nadar, nadar, nadar até a ansiedade passar. Fiquei com a segunda opção.
No clube que frequento, há duas piscinas: uma aquecida e outra "normal". Fui na "normal", esperando que o contato da água fria com minha pele tivesse poder energético. Mergulhei sem medo. E nadei, nadei, nadei... até cansar.
Aí aconteceu algo muito, mas muito bonito. O sol saiu detrás das nuvens e iluminou parte da piscina, justamente onde eu me encontrava. Seus reflexos fizeram a superfície da água ficar prateada, brilhante. E isso incluiu meu corpo. Senti os raios solares me atingirem, fechei os olhos e me entreguei.
Fiquei assim, entregue, boiando e sentindo no rosto, no corpo, na alma o calor do sol de uma tarde de agosto... A ansiedade foi, então, dando lugar a um enorme bem-estar. Como se eu flutuasse universo afora, sem nome, profissão, obrigação, desejo, passado, importância. Uma experiência à la Kieślowski, ou talvez Godard...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Eu imagino o inconsciente como sendo um lago profundo de águas paradas. No fundo dele, emaranhadas umas nas outras, as lembranças. Às vezes, alguma delas se desprende e vem à tona (ao consciente). Quando são ruins, causam extremo desconforto. E o porquê determinada lembrança emerge num dia X da sua vida, só a Psicologia, com muita análise, explica.
Nesta noite, em sonho, uma lembrança (a pior delas) se desprendeu do fundo e resolveu boiar na superfície do meu "lago". Apesar de conscientemente eu a evitar a todo custo e ser capaz de jurar que esse assunto está "resolvido", parece que não é bem assim... Acordei com uma enorme pena de mim mesma. Hoje, eu poderia chorar todas as lágrimas do mundo.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

A. Prado, Exausto