quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Trecho de "A outra vida de Catherine M.":

"Se não acreditamos em predestinação, temos que admitir então que as circunstâncias de um encontro, que por comodidade atribuímos ao acaso, são, na verdade, o resultado de uma incalculável sequência de decisões tomadas em cada cruzamento de nossa vida e que, secretamente, nos levaram até ele. Não que tenhamos buscado, nem mesmo desejado, ainda que inconscientemente, todos os nossos encontros, até mesmo os mais importantes. O que é acontece é que cada um de nós age como um artista ou um escritor que constroi sua obra numa sucessão de escolhas. Um gesto ou uma palavra não determina inelutavelmente o gesto ou a palavra seguinte; pelo contrário, coloca seu autor diante de uma nova escolha. Um pintor que colocou uma pincelada de vermelho pode escolher alongá-la, justapondo-lhe uma pincelada de roxo; pode escolher fazê-la vibrar com uma pincelada de verde. No final, por mais que ele tenha trabalhado com uma certa ideia do quadro pronto na cabeça, a soma de todas as decisões tomadas, sem que tenham sido previstas, fará surgir um outro resultado. É assim que vamos conduzindo nossa vida, num encadeamento de atos bem mais deliberados do que estamos prontos a admitir
porque assumir claramente toda essa responsabilidade seria um fardo muito pesado , e que, no entanto, nos colocam no caminho de pessoas em cuja direção não pensávamos já estar nos dirigindo há tanto tempo."