quinta-feira, 23 de maio de 2013

"Durante uma incomum calmaria no meio da manhã, Vernon Halliday voltou a pensar que talvez não existisse. Ao longo de trinta segundos sem nenhuma interrupção, ficou sentado diante da escrivaninha apalpando de leve a cabeça com as pontas dos dedos, preocupado. Desde que havia chegado ao Judge duas horas antes, ele já falara, em separado e intensamente, com quarenta pessoas. Não apenas falara: exceto em dois casos, decidira, priorizara, delegara, escolhera ou dera uma opinião que seria interpretada como ordem. Esse exercício de autoridade não havia tornado mais agudo seu senso de individualidade como costumava acontecer; em vez disso, Vernon tinha a impressão de estar diluído; ele era apenas a soma de todas as pessoas que o tinham ouvido e, quando se encontrava a sós, não era nada."

Ian McEwan, Amsterdam

(Ando completamente fascinada pela literatura de McEwan, recém-descoberta por mim. Comprei O jardim de cimento às cegas, sem saber quase nada sobre o autor. O livro me "pegou" de um jeito que há muito não acontecia: ler sem vontade de parar e, quando obrigada a isso, ficar pensando, lembrando da história o tempo todo. Depois de terminada a leitura, corri para a livraria mais próxima e me muni de mais três títulos dele: Amsterdam (ganhador do Booker Prize), Reparação e Sábado. Nem preciso dizer que recomendo, preciso?!)